A série A-2 do Campeonato Paulista é onde a tradição se encontra com a modernidade futebolística. Muitos times “de empresários”, projetos revolucionários de prefeituras, catados de Bagres e times que tiveram seus momentos de glória no passado, se enfrentam para tentar conquistar um lugar na elite do futebol Bandeirante.
Não é fácil. O investimento tem de ser grande, mesmo estando na segunda divisão e com pouco dinheiro de TV, os estádios nem sempre estão cheios, os horários dos jogos são os piores possíveis, e claro, as vagas para o acesso são poucas. Chegar ao objetivo é uma tarefa árdua. A missão não é para qualquer um, e é aí que se sobressaem os grandes homens.
Ir a Rua Javari, no mítico bairro da Mooca em São Paulo, é um ritual que todos deveriam experimentar. Não vou ficar me aprofundando em Cannolis, resistência futebolística, templo operário. Muitos já falaram com propriedade sobre o assunto. O que quero dizer é que ali a tradição de um clube, da sua gente, do seu povo, não parou no tempo. O torcedor Juventino, ele segue adicionando feitos relevantes a sua conta, o que não é fácil. Ir a um jogo as 10:00 da manhã sob um sol de derreter catedrais, não é propriamente algo tranquilo de se fazer. Mas ali estavam eles, com muita sede, já que o Bar ao lado, o eterno Cebola (Ou Tostão), estava estranhamente fechado. Constitui-se de gente que respira o futebol, que não quer saber em que posição da tabela está o time, ou mesmo em que divisão ele se encontra. É um torcedor que sabe o que acontece no mundo da bola, mas mesmo assim, rejeita peremptoriamente a plastificação do seu estádio, do seu sentimento, como quem sabiamente rejeita a adesão àquele Clube de Campo que manda cartas todo mês para sua casa. Sabem que é péssimo negócio lotear a paixão em cadeiras numeradas de plástico, sem história, sem choro, sem nada.
Se estar ali é uma festa, o atacante Tuta, já no ocaso do seu ocaso futebolístico, era a atração principal, claro depois daquela camisa grená tão bonita. O Velo Clube era o convidado que vinha do interior. Se a A-2 é para Caras Durões, que não mandam recado, SMS ou Cutucadinhas no Facebook, também não é para jogadores do calibre de Corte (!), que qual aquele ébrio indesejado, queimou a largada, foi expulso e deixou o Juventus com um jogador a menos.
A torcida pedia a entrada da atração principal. Tuta, aquecia tanto, que para mim, não iria conseguir jogar. Seus quase 39 anos, não o permitem esses malabarismos. Enquanto isso, a torcida, muito próxima do local onde os reservas se aqueciam, dirigiam palavras de ordem ao atacante como “Tuta somos seus filhos também, pague a pensão” “Tuta, depois vamos pro Cebola tomar umas”. Em um escanteio, deu para ver que ele achava muita graça naquilo. Com certeza estar ali é tão importante para ele quanto foi jogar no Flamengo, Grêmio, Palmeiras, Fluminense, ou mesmo quando jogou na Itália, pelo Venezia, fez um gol e foi agredido pelos próprios companheiros, melando uma suposta armação de resultados.
O Velo Clube, não fez cerimônia, nem se impressionou com Tuta e torcida Juventina, no segundo tempo fez o seu gol, e poderia até ter feito mais. Ficou com a vitória. O veterano atacante, bem que tentou, chutou forte, não tirou o pé em divididas, discutiu com zagueiros adversários, com o juiz e sofreu com o calor forte. O palco não é mais o mesmo de antes. Os R$12 mil que ganha, também não fazem frente aos vencimentos de outrora, ultimamente incluisve, o atacante andou indo em cana por não pagar a pensão a seus filhos, mas que lugar melhor que a Série A-2 de São Paulo para um renascimento? – Nem que este seja aos 38 anos, num mar de dívidas e incertezas. Tenho certeza que Tuta jamais esquecerá a sua passagem pela Mooca. Assim como Vampeta, Elias, César Menotti, Fabio Augusto e tantos outros.
Foi um domingo quente, mas depois a cerveja estava bem gelada, logo ali ao lado, foram torcedores, gandulas, jornalistas, pais, filhos. Só faltou o Tuta mesmo. Cebola Eterno!
fotos: Eu mesmo e Lancenet!
Continuarei indo aos jogos da A-2 e A-3! 🙂
Bagres da Bola 